terça-feira, 22 de julho de 2014

Vamos?

Demos as mãos e continuámos a andar. Ficámos em silêncio durante um bom bocado. Sempre gostei destes nossos silêncios. São silêncios grávidos de significados e vazios de desconforto. São silêncios onde nos podemos sentar e esperar devagar pelo regresso das palavras. É como se o silêncio fosse uma forma diferente de habitarmos na conversa dos dias.
O Sol tinha-se posto sem que déssemos conta. Só se ouvia um suave marulhar, um sussurro com voz de brisa. A areia começava finalmente a arrefecer. Então, ela falou:
‘O que é que fazemos agora?’
Esperei um bocado antes de responder.
‘Não sei. O que é que queres fazer?’
‘Não sei. Espera.’
Sentámo-nos a olhar o mar, a linha ténue do horizonte. Um esboço de nuvens escurecia lá ao fundo com o anoitecer. Deixámo-nos em silêncio.
‘Vamos?’
‘Vamos.’

Fomos.

José Maria Archer
22/vii/2014

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Afinal dá!


"Podemos sempre beber uma cerveja como se fosse a última."
Herberto Hélder



Já tinha dito há uns tempos:
A fotografia é uma descoberta, uma imagem revelada ao fotógrafo no instante em que se confronta com a acção ou cena. O desenho é uma apropriação, quase destruição do que o autor vê. É adaptar a realidade à sua vontade.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os Versos Vazios

Trago os meus versos vazios

Um dia talvez os encha
de beleza ou de tristeza
de qualquer coisa que os separe
dos ruídos da cidade
Talvez lhes dê a luz
de uma manhã de inverno
ou a melodia de um ribeiro
Talvez o crescer das árvores
ou o silêncio de um olhar

Talvez assim os meus versos
se sintam música

José Maria Archer
19/xi/2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lisboa, 2 de Novembro de 2010







Certa Noite

Tirei finalmente a mão do corrimão. A porta estava aberta, saí. Tinha caído a noite, a rua estava molhada, o ar fresco. Apertei contra mim o casaco e escolhi um lado. Tanto fazia. Os sapatos contra a calçada. A condensação da respiração. A rua deserta. A noite por minha conta.
Fui.