Demos as mãos e continuámos a andar. Ficámos
em silêncio durante um bom bocado. Sempre gostei destes nossos silêncios. São
silêncios grávidos de significados e vazios de desconforto. São silêncios
onde nos podemos sentar e esperar devagar pelo regresso das palavras. É como se
o silêncio fosse uma forma diferente de habitarmos na conversa dos dias.
O Sol tinha-se posto sem que déssemos conta.
Só se ouvia um suave marulhar, um sussurro com voz de brisa. A areia começava
finalmente a arrefecer. Então, ela falou:
‘O que é que fazemos agora?’
Esperei um bocado antes de responder.
‘Não sei. O que é que queres fazer?’
‘Não sei. Espera.’
Sentámo-nos a olhar o mar, a linha ténue do
horizonte. Um esboço de nuvens escurecia lá ao fundo com o anoitecer.
Deixámo-nos em silêncio.
‘Vamos?’
‘Vamos.’
Fomos.
José Maria Archer
22/vii/2014